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Medidas gerais para os pacientes com vasculites sistêmicas

Conforme visto, as vasculites sistêmicas primárias são todas doenças extremamente raras. Por isso, é esperado que poucos médicos tenham podido adquirir grande experiência com o seu tratamento durante seu treinamento e prática clínica rotineira.

Existe muita semelhança entre as vasculites primárias e as doenças sistêmicas que fazem parte do expectro de atuação rotineira do Reumatologista. Todas elas têm mediação imunológica, atingem simultaneamente múltiplos órgãos, e são tratadas de forma semelhante. Além disso, muitas das doenças do seu campo corrente de atuação provocam vasculites secundárias. Por isso, acreditamos que este especialista seja o médico mais bem treinado para o tratamento destas doenças raras.

Por serem doenças que atingem múltiplos órgãos, é importante que o paciente não se sinta acanhado em relatar com detalhes ao médico que o está acompanhando, todos os sintomas que porventura venham a aparecer no curso do seu tratamento e um bom relacionamento médico-paciente é essencial para o bom resultado da terapêutica.

Além dos cuidados necessários com a doença, são igualmente importantes os cuidados gerais com a saúde física e psíquica do paciente. Não é incomum pacientes com doenças graves transformarem os cuidados com a doença o seu principal objetivo de vida, passando a viver em função da doença. Isso é muito prejudicial para o paciente e para aqueles que com ele convivem. Não se deve perder de vista a necessidade absoluta de continuar a exercer as atividades laborativas e de lazer, os cuidados pessoais e principalmente os contactos com amigos e familiares, no limite máximo impostos por suas limitações, durante todo o tempo necessário para sua recuperação.

Uma vez estabelecida a vasculite, seja ela qual for, os danos vasculares persistem mesmo após o tratamento e a remissão da doença. O corpo humano possui muitos mecanismos para compensar a perda de circulação para os seus tecidos, como a abertura de vasos embrionários e a neoformação de vasos, que são recursos utilizados quando o tecido apresenta isquemia.

É essencial que os pacientes que sofreram dano em seus vasos passem a fazer exercícios regulares no sentido de estimular formação desta circulação colateral. Em geral, estes exercícios se tornam dolorosos após alguns minutos devido à falta de circulação no território afetado. A dor no entanto, não deve ser encarada como um fato grave e quanto mais sedentário o paciente se torna devido a dor, menor o esforço necessário para que a dor apareça, havendo assim piora progressiva do quadro clínico.

Se por um lado, a falta de irrigação dos tecidos pode trazer dano, por outro lado ela é um forte estímulo para que ocorra a formação de novos vasos. Assim os exercícios diários, devem ser controlados pelos próprios pacientes, quanto a sua duração e intensidade, e mantidos até o aparecimento da dor, quando então devem ser cessados e iniciado repouso até o desaparecimento total da dor. Uma vez recuperados, devem reiniciar os exercícios até que a dor apareça novamente. Desta forma, estarão ocorrendo permanentemente os estímulos necessários para a revascularização natural dos tecidos. Conforme esta revascularização vai ocorrendo, a duração do esforço e a intensidade dos exercícios deve aumentar progressivamente até que o paciente se torne totalmente assintomático, mesmo aos esforços. Nos casos em que esta recuperação progressiva não ocorra, a indicação de revascularização cirúrgica deve ser considerada.

Cada vez são mais claras as evidências de que vasos previamente lesados são mais sensíveis ao desencadeamento de aterosclerose. Assim, pacientes que tiveram arterite devem ser frequentemente avaliados quanto a seus fatores de risco, entre os quais destaca-se a dislipidemia. Dieta pobre em gorduras e monitorização do colesterol total e de sua fração LDL devem ser feitos para todos os pacientes, mantendo-os nos níveis necessários para prevenção secundária de eventos trombóticos.

O tabagismo, além de e agravar a dislipidemia e ser um fator de risco independente para a aterosclerose, provoca a tromboangiite obliterante, outra doença arterial muito semelhante às vasculites sistêmicas. Todos os pacientes com arterite devem ser orientados para não fumar e não deixar que fumem perto deles, pois os danos do cigarro podem ocorrer também nos fumantes passivos. É também essencial o tratamento rigoroso da obesidade, do diabetes mellitus e da hipertensão arterial sistêmica tanto durante o tratamento como após o seu término, no sentido de evitar as suas complicações cardiovasculares que se sobrepõem aos danos próprios da doença.

Finalmente, como vasos previamente lesados são naturalmente predispostos a eventos trombóticos, deve-se considerar a possibilidade de uso profilático de antiagregantes plaqutários ou até de anticoagulação em casos específicos. Nos casos de arterites de grandes vasos, recomendamos o uso de doses antiagregantes de aspirina de forma continua mesmo após a remissão total da doença.
 

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