Pular para o conteúdo principal

Sindrome das Pernas Inquietas

O International Restless Legs Syndrome Study Group (IRLSSG) em 2002 formulou os achados clínicos para os critérios diagnósticos para síndrome das pernas inquietas. Os pacientes geralmente apresentam uma dificuldade para descrever o que sentem, mas é uma sensação desagradável e não necessariamente dor. As descrições comuns incluem "câimbras, arrepios, formigamento, puxões, dores, coceiras ou queimação nas pernas". Os pacientes geralmente descrevem esta sensação entre os tornozelos e os joelhos, bem como pode afetar a perna toda e até os membros superiores. Geralmente as queixas diminuem com alongamentos ou caminhadas.

Os critérios diagnósticos são:

Os pacientes vão classificar os seus sintomas em uma escala de 0-4, no qual 0 = sem sintomas e 4 = sintomas severos.

International Restless Legs Syndrome Study Group (IRLSSG): Critérios Diagnósticos:

  1. Uma urgência em mover as pernas, geralmente acompanhada ou causada por uma sensação desagradável nas pernas. Algumas vezes esta urgência não é acompanhada por sensação desagradável. Algumas vezes os braços e outras partes do corpo estão envolvidas.
  2. A urgência de mover ou a sensação desagradável geralmente começa ou piora após períodos de repouso ou inatividade, como deitar ou sentar.
  3. A urgência de mover ou a sensação desagradável são parcialmente ou totalmente aliviadas com movimentos, como caminhadas ou alongamentos, que duram enquanto a atividade permanece.
  4. A urgência de mover ou a sensação desagradável é pior no entardecer ou à noite do que durante o dia ou somente ocorre à noite.
International Restless Legs Syndrome Study Group (IRLSSG): Escala de Avaliação:
  1. Geralmente, como você pode estimar o seu SPI em suas pernas ou braços?
  2. Geralmente, como você pode estimar a necessidade em mover-se devido os sintomas da SPI?
  3. Geralmente, quanto você melhora o desconforto de suas pernas ou braços quando se move?
  4. Geralmente, quão severo é o seu distúrbio do sono devido seus sintomas de SPI?
  5. Quão severa é a sua fadiga ou sonolência devido os sintomas das SPI?
  6. Geralmente, quão severa é a sua SPI?
  7. Quão freqüente (dias/semanas) você tem sintomas de SPI?
  8. Quando você tem sintomas de SPI, quão severo (número de horas) ocorrem no total do dia?
  9. Geralmente, quão severo é o impacto dos sintomas da SPI na sua capacidade em executar suas atividades diárias?
  10. Quão severo é o seu distúrbio do humor em função dos sintomas da sua SPI?
A SPI pode ocorrer de forma idiopática, ou seja, não concomitante a outras doenças ou secundária a outras doenças. A maioria sofre da forma idiopática (76%). A forma secundária pode estar associada a uma série de condições como: uremia (aumento da uréia), deficiência de ferro, gravidez, fibromialgia, artrite reumatóide, sd. Sjögren, deficiência de ácido fólico, polineuropatias e outros.

Movimento periódico dos membros (MPM):

MPM é uma condição caracterizada por movimentos dos membros durante a noite que resulta em uma queixa de insônia ou sonolência durante o dia. Acima de 80% dos pacientes com SPI também apresentam MPM, e há uma controvérsia se os MPM são uma síndrome distinta das SPI.O MPM afetando as extremidades inferiores é descrito como uma extensão do dedão do pé, acompanhada por dorsiflexão do tornozelo e ocasionalmente flexão do joelho e quadril. Este movimento é geralmente bilateral, mas pode ocorrer em apenas uma perna. Pode aparecer também nos membros superiores geralmente se manifestando com a flexão do cotovelo. Estes sintomas geralmente aparecem na primeira metade do sono.

Todavia, o diagnóstico da SPI é feito através das características clínicas e o diagnóstico dos MPM é feito através da polissonografia usando eletromiografia (EMG) dos músculos das pernas (tibial anterior). Os movimentos são diagnosticados se eles duram de 0.5-5 segundos e ocorrem em uma série de quatro ou mais em intervalos de 5-90 segundos. A amplitude, na EMG, dos movimentos noturnos dos membros pode atingir 25% a mais que a amplitude basal.

A severidade dos MPM é determinada pelo index de movimentos dos membros durante o sono por hora. O índice de movimentos por hora de sono é definido como:

  • Leve: 5-25 movimentos/hora;
  • Moderado: 25-50 movimentos/hora;
  • Severo: acima de 50 movimentos/hora ou acima de 25 movimentos/hora associados à excitação/hora de sono.
Quando os sintomas de insônia ou sonolência excessiva durante o dia ocorrem concomitante aos MPM, o diagnóstico de MPM idiopática pode ser feito se não houver outras condições médicas, psiquiátricas ou desordens do sono. Os MPM podem ocorrer também em associação com outras condições médicas como a apnéia obstrutiva do sono.

Esta síndrome é pouco diagnosticada em pessoas abaixo dos 30 anos, mas é encontrada em 44% das pessoas acima dos 65 anos.


Epidemiologia:

SPI é uma desordem comum com uma prevalência aproximada de 1-10% em diferentes populações. Em um estudo populacional realizado em 2099 centros de saúde primários encontrou que 24% dos pacientes apresentavam sintomas de SPI e 15,3% notavam estes sintomas pelo menos por uma semana. Estes sintomas são mais comuns em mulheres que homens e a prevalência aumenta com a idade.

A idade média para o início é 27.2 anos; em 38.3% dos pacientes, o início é antes dos 20 anos. A maioria dos pacientes com SPI demonstram no polissonograma MPM, e aproximadamente 1/3 dos pacientes com MPM terão SPI.

Características hereditárias:

92% dos pacientes com SPI idiopática tem história familiar e somente 13% com a forma secundária tem história familiar.

Diagnóstico diferencial da SPI:

  • Desordens psiquiátricas: ansiedade;
  • Síndrome da resistência das vias aéreas;
  • Epilepsia noturna;
  • Câimbras noturnas da gravidez;
  • Desordens de movimentos oculares rápidos do sono (REM).
Investigação e tratamento das causas secundárias:

A dosagem de ferro, ferritina, ácido fólico, cobalamina, uréia e creatinina devem ser feitas em todos pacientes com SPI. Na deficiência de ferro, o mesmo deve ser reposto.

Exames adicionais como eletroforese de proteínas, FAN. FR, provas da tireóide e eletroneuromiografia devem ser solicitados na suspeita clínica de uma doença associada.


Modificações no estilo de vida:

Higiene do sono: obter horas adequadas de sono, estipular horário para dormir e acordar e ingerir uma dieta adequada.

Evitar fatores exacerbadores:

  • Álcool: agrava sintomas de SPI e MPM;
  • Cafeína: aumenta a excitação do sistema nervoso central;
  • Antidepressivos: fluoxetina, paroxetina, sertralina, mirtazapina, e mianserina podem piorar os sintomas de SPI e MPM;
  • Outros medicamentos como: neurolepticos (olanzapina e risperidona), beta-bloqueadores, fenitoina e lítio podem piorar os sintomas da SPI;
  • Estresse, mudanças de turno no trabalho, atividades físicas extenuantes perto da hora de dormir podem exacerbar a SPI e MPM;
  • Tabagismo: há estudos conflitantes a respeito do tabaco nas SPI e MPM.
Agentes farmacológicos:

O uso de agentes farmacológicos é sintomático e não curativo para a SPI. Existem vários disponíveis no mercado.

Conclusões:
A SPI é uma desordem comum que pode estar associada à insônia e sonolência diurna. Sua prevalência é alta e facilmente diagnosticada, mas normalmente não reconhecida. A SPI deve ser suspeitada em qualquer indivíduo com desconforto nas pernas à tarde ou à noite na cama. Geralmente é idiopática, mas causas secundárias como a deficiência de ferro deve ser investigada. Os agonistas dopaminérgicos são geralmente a primeira escolha para o tratamento, e as terapias secundárias incluem os anti convulsivantes e opiáceos.
 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Arterite Temporal

Também denominada arterite de Células Gigantes acomete predominantemente indivíduos idosos, a partir dos cinquenta anos de idade com incidência crescente quanto maior a idade. É muito maior em indivíduos de cor branca, sendo rara em negros e orientais. O seu quadro clínico é caracterizado por cefaléia de início súbito, em região temporal, às vezes acompanhada por espessamento da artéria temporal e por lesões cutâneas na região da artéria que se torna dolorosa à palpação. Em geral o paciente apresenta sintomas oculares como amaurose fugaz, borramento visual, visão duplicada (diplopia) e dificuldade para mastigação (claudicação de mandíbula) e muitas vezes dificuldade para engolir alimentos (disfagia). Na investigação laboratorial o achado mais típico é a grande elevação das provas de fase aguda com velocidade de hemossedimentação próxima de 100 mm na primeira hora. O diagnóstico deve ser realizado precocemente pois a evolução mais temível é o desenvolvimento de perda definitiva da vi...

Quais exames são solicitados pela reumatologista?

A Bia tem feito vários exames desde de que deu inicio o acompanhamento com a reumato Além dos exames físicos para complemento é solicitado os exames: Imagens: Ultrassom Tomografia Rx É os de sangue abaixo entre outro : Cardiolipina - Anticorpos IgG  Cardiolipina - Anticorpos IgM Anticoagulante Lúpico Analise de caracteres fis. elementos e se Dosagem de transaminase Glutâmico - Oxal  Dosagem de transaminase Glutâmico - Piru Anca Anticorpos Anti Neutrófilos Vitamina D (25-hidroxi) Dosagem de Cálcio  Fosforo Dosagem  Dosagem de Fosfatase alcalina Dosagem de Acido Úrico Dosagem de Desidrogenase Latica Dosagem de creatinofosfoquinase (cpk) Anticorpos Anti-ssa (RO) Anticorpos Anti-ssb (LA) Dosagem de Hormônio tireoestimulante (TSH) Dosagem de Tiroxina livre (T4 LIVRE) Hemograma Completo Determinação de velocidade de Hemossedimentação  Dosagem de Proteína C reativa Pesquisa de anticorpos Anti Núcleo  Prova do L...

O que é Lupus Eritematoso Sistêmico?

  Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES)   é uma doença crônica, de causa desconhecida, na qual ocorre uma ativação do sistema imunológico, caracterizada pela presença de múltiplos auto-anticorpos. Compromete principalmente mulheres jovens, entre 20 a 45 anos, com distribuição universal, sem predomínio racial. È uma doença pouco freqüente, com incidência entre 4 a 7 casos/100.000 habitantes por ano; um estudo epidemiológico realizado aqui no Brasil, em Natal (RN), estimou uma incidência de 8 casos/100.000 habitantes por ano. Pode afetar múltiplos órgãos e evoluir alternando períodos de atividade inflamatória com períodos de remissão (sem sintomas da doença). Embora de causa ainda desconhecida, múltiplos fatores estão envolvidos no desencadeamento da doença, como genéticos, ambientais, hormonais, infecciosos, algumas medicações e radiação ultravioleta (luz solar). O LES pode ter um início agudo ou insidioso (mais lento), com manifestações em diferentes órgãos e siste...